Revista «Gil Vicente»
Breve historial dos seus 75 anos de
vida
1-
O primeiro número de «Gil Vicente», como revista, apareceu em Janeiro de
1925. Surgia com o ideário de publicação “doutrinária de cultura
nacionalista”. Já existira um semanário com o mesmo título que iniciou a
saída em 20 de Outubro de 1918, como defensor dos interesses locais,
humorístico, literário e noticioso. Teve como primeiro director Artur Fernandes
de Freitas, substituído, a partir do n° 79 do 2º ano, pelo Padre J. L. Caldas,
que viria a formar-se em Direito, passando, a partir de então, a semanário
monárquico, regionalista, literário e noticioso. Manuel Alves de Oliveira,
escreveria, em Janeiro de 1980, no “Regresso” assinado no n° l,
Vol. I da 3ª série: “No terceiro ano de publicação tornou-se órgão e
propriedade da Junta Municipal Integralista de Guimarães e eu (M.A.O.) a ser o
seu secretário de Redacção, ficando deste modo, ligado à vida do semanário e de
um modo especial a partir da 2ª série, iniciada em 21 de Janeiro de 1923, sob a
direcção de D. José Ferrão, série essa que viria a terminar com o n° 202, do
5° ano, que saiu em 31 de Agosto de 1924”.
2-
“Quatro meses depois, em Janeiro de 1925, é que se iniciou a publicação da
Revista Gil Vicente, também dirigida por D. José Ferrão, continuando eu
como secretário de Redacção e editor. Em Janeiro de 1926 passei a partilhar da
direcção. Com o falecimento de D. José Ferrão, em princípios de 1964, fiquei
só na direcção e a ter a preocupação de que a Revista chegasse aos cinquenta
anos de existência. Completados eles, em 1974, abdiquei da missão que a mim
próprio impusera. Porém, resolveu o Gabinete de Imprensa de Guimarães, fundado
e presidido por Barroso da Fonte, chamar a si o encargo de a fazer ressurgir,
convidando-me para seu director. Nesta sua nova fase Gil Vicente
continuará a ser uma publicação de informação especializada, agora dentro das
normas estatutárias do Gabinete de Imprensa de Guimarães e trilhando os
caminhos da independência dentro dos princípios deontológicos e da ética
profissional que lhe irá caber na imprensa Portuguesa” - ainda segundo as
palavras de Manuel Alves de Oliveira.
3-
No n° 3 - Vol. II, da 3ª série, referente a Julho/Setembro de 1981, apareciam “algumas
palavras para justificar a mudança”, assinadas por Barroso da Fonte
que entretanto fora nomeado por unanimidade pela Direcção do Gabinete de
Imprensa para substituir Manuel Alves de Oliveira que se desviara da linha
editorial preconizada pelo organismo de que era propriedade. Em 1998 foi
editado um número duplo, cobrindo os anos de 1997/ 1998. Num “Adeus até
Breve” o director escreveu: “as publicações, como as pessoas, têm
os dias contados. Como obra humana dependem sempre de factores diversos, o
primeiro dos quais se relaciona com a saúde financeira. Por falta de apoios
financeiros por parte do poder político, nomeadamente do Ministério da Cultura
que instituiu um programa para subsidiar publicações literárias e artísticas, Gil
Vicente não mais se publicou. A Direcção do Gabinete de Imprensa., confrontada
com o problema, esclareceu as dificuldades na última assembleia geral e lançou
o desafio a sócios da Instituição que queiram registar a revista como
propriedade sua, assumindo no bom e no mau, a sua continuidade”. Entre 1980
e 1998 publicaram-se, por conseguinte, 32 números, com uma média 100 páginas,
versando temática relacionada com a cultura portuguesa, nomeadamente das
ciências humanas e sociais.
No ano dois mil completam-se 75 anos
da vida desta revista. Em 1999 não se editou qualquer edição porque coincidiu
com a decisão do Gabinete de Imprensa de suspendê-la, dando a
possibilidade de qualquer associado do GI assumir a sua propriedade.
Como já em 1980 tínhamos estado na
origem do recomeço da publicação, a favor do GI, que inspirámos em 1976 e que
felizmente está de boa saúde, achámos que mais uma vez poderíamos prolongar-lhe
a vida. Em conversações amistosas com a Direcção dessa colectividade acordámos
registá-la em nosso nome.
Entretanto fundámos a Editora Cidade
Berço que assumiu a paternidade da «Gil Vicente», do jornal «Poetas
& Trovadores» e ainda de «Voz de Guimarães». Uma dimensão a três
vozes culturais e informativas que a muito custo temos vindo a acarinhar e que
iremos prolongar no espaço e no tempo, enquanto Deus quiser.
Coincidindo esta viragem com os 75
anos da «Gil Vicente» resolvemos elaborar uma edição especial que
cobrisse os anos de 1999/2000. Convidámos, além de colaboradores habituais,
outros nomes da ciência e da cultura que aceitaram o nosso desafio,
contribuindo com o seu esforço intelectual para o enriquecimento desta
efeméride cultural.
Poucas publicações periódicas podem
vangloriar-se de chegar aos 75 anos. Não sendo muito tempo corresponde à idade
média de um homem que poderíamos imaginar o seu principal impulsionador: Manuel
Alves de
Oliveira (1902-1990). Foi um
Vimaranense dos melhores da sua época e que pela cultura local e nacional
gastou o melhor da sua vida. Já decorreram dez anos sobre a sua morte. Até hoje
ainda o poder político local ou nacional não teve coragem de invocá-lo, como
bem merece.
Com a presente edição pretendemos
nós recordar essa grande figura Vimaranense, abrindo a série de artigos com um
trabalho que J. Pinharanda Gomes, seu amigo de longa data, escreveu poucos
dias depois de ter conhecimento da morte do homem que dirigiu o Arquivo
Municipal, após a morte de Alfredo Pimenta e o «Boletim de Trabalhos
Históricos», propriedade daquela instituição. Embora vivendo um em
Guimarães e outro em Lisboa, conheceram-se durante trinta anos, trocando
experiências, ajudando-se mutuamente nas lides literárias e na pesquisa
científica a que ambos se devotaram, como poucos.
O trabalho de Pinharanda Gomes com o
qual pretendemos recordar Alves de Oliveira foi inserido no VI volume do «Pensamento
Português», editado pela Livraria Pax em 1992. Pelo muito que devemos a
Alves de Oliveira e a Pinharanda Gomes, aqui exaramos a nossa gratidão, através
da Gil Vicente que um fundou e dirigiu e que outro ajudou a ser das mais
prestigiadas revistas portuguesas de cultura e actualidades.
***
Graças a um outro ilustre
Vimaranense, igualmente sensível às questões culturais, sobretudo de índole
Vimaranense - Abel Ribeiro da Silva - esta edição aparece sem qualquer
patrocínio oficial ou oficioso. Em Portugal a verdadeira cultura vive de mãos
estendidas à caridade. Os dinheiros públicos gastam-se nos Salões do Livro, com
os “boys e as girls” do regime. Esbanjam-se fortunas, promovem-se uns aos
outros, numa promiscuidade confrangedora. Mas não se apoiam os verdadeiros
projectos culturais, publicações com história e com rasto de conduta
irrepreensível, como esta.
Até aos 75 anos «Gil Vicente»
chegou, com dificuldades de todo género. A partir daqui seja o que Deus quiser.
Guimarães, Páscoa de 2000
O director